O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) reúne desordens do desenvolvimento neurológico presentes desde o nascimento ou começo da infância. São elas: Autismo Infantil Precoce, Autismo Infantil, Autismo de Kanner, Autismo de Alto Funcionamento, Autismo Atípico, Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação, Transtorno Desintegrativo da Infância e a Síndrome de Asperger.De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), referência mundial para critérios diagnósticos, pessoas no espectro podem apresentar déficits na comunicação e interação social (tanto verbal quanto não verbal, assim como na reciprocidade emocional) e comportamentos restritos e repetitivos, como movimentos constantes, interesses fixos e hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais. Embora todas as pessoas com autismo compartilhem essas características, a intensidade em que são afetadas varia, resultando em experiências muito individuais. Embora o diagnóstico seja mais comum na infância, os transtornos são condições permanentes que acompanham a pessoa ao longo de toda a vida.
De acordo com dados do CDC (Centers for Disease Control and Prevention – EUA), divulgados em março de 2023, uma pesquisa realizada em 2020 revelou que 1 em cada 36 crianças de 8 anos tem o diagnóstico de TEA. Embora no Brasil não haja dados precisos, estima-se que cerca de 1% da população seja afetada por essa condição.
Sabe-se que a maioria das doenças e transtornos são baseadas em uma junção de fatores genéticos e ambientais. Com o TEA não é diferente, a etiologia do TEA é complexa e multifacetada. Dessa maneira, o que causaria o autismo também seria uma mistura de fatores, mas ainda não sabemos quais exatamente.
Existe uma forte influência genética no TEA, com uma alta taxa de recorrência em famílias com histórico da condição. No entanto, o TEA não é causado por uma única mutação genética, mas sim por uma combinação de fatores genéticos. Dentre os fatores ambientais sabemos que a exposição a toxinas durante a gravidez, fatores pré-natais, como complicações durante a gravidez e parto prematuro, estão associados a um maior risco de desenvolvimento de TEA. Embora a etiologia exata do TEA ainda não seja completamente compreendida, uma abordagem multidisciplinar que integre pesquisas genéticas, neurobiológicas e ambientais está ajudando a elucidar os mecanismos subjacentes à condição.
Há disparidades de gênero na incidência do TEA, com uma proporção significativamente maior de meninos sendo diagnosticados em comparação com meninas, estimada em cerca de 4:1 a 5:1. No entanto, a razão para essa discrepância ainda não está completamente elucidada. Atualmente, reconhecemos que as meninas têm uma maior habilidade de mascarar os sintomas, o que pode levar a diagnósticos mais tardios.
A evolução do diagnóstico do TEA remonta ao passado, quando era conhecido como autismo. Originado do grego "autos", significando "próprio" ou "de si mesmo", o termo foi inicialmente utilizado por Eugen Bleuler para descrever um estado de introspecção e, posteriormente, adotado por Leo Kanner em 1943 para descrever características comportamentais específicas em crianças. A inclusão do autismo no DSM-III em 1980 marcou um marco significativo, e em 2013, com o DSM-5, o termo "Transtorno do Espectro Autista" foi formalmente estabelecido. Essa mudança reflete uma compreensão mais ampla e inclusiva da condição, reconhecendo a diversidade de sintomas e níveis de funcionamento associados ao TEA.
O diagnóstico de TEA é essencialmente clínico, feito a partir das observações da criança, entrevistas com os pais e aplicação de instrumentos específicos. Instrumentos de vigilância do desenvolvimento infantil são sensíveis para detecção de alterações sugestivas de TEA, devendo ser devidamente aplicados durante as consultas de puericultura na Atenção Primária à Saúde. O relato/queixa da família acerca de alterações no desenvolvimento ou comportamento da criança tem correlação positiva com confirmação diagnóstica posterior, por isso, valorizar o relato/queixa da família é fundamental durante o atendimento da criança.
O TEA afeta o comportamento da criança. Os primeiros sinais podem ser notados em bebês nos primeiros meses de vida. No geral, uma criança com transtorno do espectro autista pode apresentar os seguintes sinais:
- Dificuldade para interagir socialmente, como manter o contato visual, identificar expressões faciais e compreender gestos comunicativos, expressar as próprias emoções e fazer amigos;
- Dificuldade na comunicação, caracterizado por uso repetitivo da linguagem e dificuldade para iniciar e manter um diálogo;
- Alterações comportamentais, como manias, apego excessivo a rotinas, ações repetitivas, interesse intenso em coisas específicas e dificuldade de imaginação.
Até o momento, não há remédios específicos para tratar o autismo, embora esta seja uma prioridade das pesquisas, com diferentes medicamentos em teste. O acompanhamento médico multidisciplinar, composto por pediatra, psiquiatra, neurologista, psicólogo e fonoaudiólogo, entre outros, é o tratamento mais recomendado para ajudar no desenvolvimento da criança autista. A conduta indicada vai depender da intensidade do distúrbio e da idade do paciente e deve ser decidido junto aos pais. Em linhas gerais, o tratamento associa diferentes terapias para testar e melhorar as habilidades sociais, comunicativas, adaptativas e organizacionais.
A rotina de cuidados pode incluir exercícios de comunicação funcional e espontânea; jogos para incentivar a interação com o outro; aprendizado e manutenção de novas habilidades; e o apoio a atitudes positivas para contrapor problemas de comportamento. É muito popular a adoção das abordagens terapêuticas Análise Aplicada do Comportamento (conhecido como método ABA) e Terapia Cognitivo-Comportamental.
Frequentemente, as terapias são combinadas com remédios para tratar condições associadas, como insônia, hiperatividade, agressividade, falta de atenção, ansiedade, depressão e comportamentos repetitivos. As avaliações são realizadas a cada 3 ou 6 meses para entender a necessidade de mudanças na abordagem ou intensidade do tratamento. Outro elemento essencial no tratamento é o treinamento com os pais. O contexto familiar é fundamental no aprendizado de habilidades sociais e o trabalho com os pais traz grandes benefícios no reforço de comportamentos adequados. Também é comum que os profissionais que tratam a criança indiquem acompanhamento psicológico para a família, devido ao desgaste emocional que o distúrbio pode provocar.
É neste local que deve ser feita a avaliação inicial e definição da necessidade de encaminhamento para um especialista. Embora ainda não tenha cura, o TEA pode ser tratado de inúmeras formas.
Com o apoio de uma equipe multidisciplinar, como a do Instituto Alan Jr, a criança pode desenvolver formas de se comunicar socialmente e de ter maior estabilidade emocional.
Nenhuma criança com TEA pode ser discriminada em função de suas dificuldades ou impedida de frequentar qualquer lugar público.
Manifestações agudas podem ocorrer e, frequentemente, o que conseguimos observar são sintomas de agitação e/ou agressividade, podendo haver auto ou heteroagressividade. Estas manifestações ocorrem por diversos motivos, como dificuldade em comunicar algo que gostaria, alguma dor, algum incômodo sensorial, entre outros. Nestes momentos é fundamental tentar compreender o motivo dos comportamentos que estamos observando, para então propor estratégias que possam ser efetivas. Dentre os procedimentos possíveis temos: estratégias comportamentais de modificação do comportamento, uso de comunicação suplementar e/ou alternativa como apoio para compreensão/expressão, estratégias sensoriais, e também procedimentos mais invasivos, como contenção física e mecânica, medicações e, em algumas situações, intervenções em unidades de urgência/emergência.
O TEA - Transtorno do Espectro Autista